segunda-feira, 24 de setembro de 2012

HAITIANOS NO PARANÁ

Segue abaixo, artigo publicado no espaço Vida e cidadania do jornal Gazeta do Povo em 09/09/2012:

O Haiti é aqui, no Paraná


Jean Auguste, Jean Vertus e Kesnel (no sentido horário) trabalham em Ponta Grossa: frio, saudade e idioma são barreiras na adaptação dos haitianos

Dois em cada dez haitianos que desembarcaram no Brasil após o terremoto de 2010 estão em território paranaense. Imigrantes se espalharam pelas regiões Sul, Sudeste e Norte.
Descrentes com a recuperação econômica do Haiti após o terremoto que matou 316 mil pessoas em janeiro de 2010, muitos haitianos procuraram o Brasil para recomeçar a vida e buscar um emprego. Hoje, dois anos e meio após a tragédia, cerca de 6 mil haitianos vivem no Brasil, segundo o Ministério da Justiça. A maioria migrou para cá entre o ano passado e este ano. Desse contingente, 600 estão em território paranaense, espalhados em pouco mais de dez municípios.
De acordo com o Conselho Nacional de Imigração (Cnig), ligado ao Ministério do Trabalho e Emprego, a Região Sul concentra 40% dos imigrantes do Haiti. O restante vive no Norte (39%) e no Sudeste (21%). No Sul, o Paraná é o estado com a maior parcela, com 19% dos imigrantes oriundos da capital haitiana, Porto Príncipe. Outros 8% estão em Santa Catarina, e 13%, no Rio Grande do Sul. Na Região Norte, o Amazonas abriga 19% dos haitianos que estão na região. No Sudeste, São Paulo é o principal polo, com 12% dos haitianos da região.

Futuro
Apesar das dificuldades, imigrantes fazem planos para trazer as famílias
Três haitianos que nunca tinham se visto no país de origem foram se conhecer neste ano, em Ponta Grossa, nos Campos Gerais. Eles foram contratados por uma empresa terceirizada da concessionária Rodonorte para restaurar duas pontes na rodovia PR-151. O trabalho começa ao amanhecer e é pesado, mas os haitianos não reclamam. “Gosto muito daqui”, diz Jean Estaniel Vertus, 29 anos, que era motorista em Porto Príncipe quando a tragédia causada pelo terremoto forçou sua saída do país em busca de trabalho no Brasil.
Além dele, Kesnel Pierre Charles, 32 anos, e Jean Julio Auguste, 42 anos, também atuam na obra. Os três dizem que já estão acostumados com a rotina no Paraná, mas se queixam do frio e das barreiras que têm enfrentar no dia a dia, como a dificuldade para se comunicar em português e a saudade da família.
Dos três, Kesnel é o veterano. Ele está no Brasil há um ano e três meses. Desembarcou em Manaus e depois foi recrutado por empresas paranaenses. Veio primeiro para Curitiba, depois seguiu para Ponta Grossa, onde divide um alojamento próximo ao Parque Estadual de Vila Velha com os dois amigos haitianos. Kesnel fala melhor o português porque fez um curso de quatro meses no Amazonas. Agora, ele ensina os colegas. Jean Vertus está aprendendo o idioma, mas Jean Auguste ainda precisa da ajuda dos colegas para conversar.
Lan house
Pelo menos uma vez por mês, eles pegam um ônibus e vão até o centro de Ponta Grossa para usar uma lan house. É a única alternativa para conversar com os familiares. Os três querem trazer os parentes para morar no Paraná.
Kesnel deixou a namorada no país de origem; Jean Vertus, o filho de 6 anos e a esposa; e Jean Auguste, os dois filhos de 11 e 14 anos mais a esposa. Além das conversas esporádicas, eles mantêm o vínculo com os familiares mandando parte do ordenado para Porto Príncipe por meio de transferência bancária.
Segundo o presidente do Cnig, Paulo Sérgio de Almeida, os haitianos que migraram para o Brasil entraram no país principalmente pelo Acre e pelo Amazonas. A maioria dos que seguiram para o Sul do país vem do Acre. Conforme uma das coordenadoras da Pastoral do Migrante no Paraná, Elisete Sant’Anna de Oliveira, entre as explicações para o acolhimento paranaense está o fato de as empresas recrutarem haitianos no Norte do país e a própria rede de comunicação formada pelos haitianos. “Muitos se conheceram no Norte e mantêm contatos entre si. Eles chamam os amigos para os estados onde estão e ainda há emprego disponível”, comenta. Ainda segundo ela, dos haitianos que estão no Paraná, 90% estão estabilizados e querem trazer os familiares.
Singularidade
Os haitianos estão no Brasil com visto humanitário. De acordo com Almeida, a causa para a vinda deles ao Brasil é basicamente econômica. Nesse sentido, segundo ele, esse foi um tipo de fluxo migratório singular. “O Haiti já estava desestruturado antes do terremoto e depois dele as coisas não voltaram ao normal. Na história recente do Brasil, a imigração dos haitianos é um caso muito diferente”, diz o presidente do Cnig. Em geral, as imigrações ocorrem por motivos de guerra ou perseguição religiosa.
A explosão da imigração haitiana é facilmente constatada ao se observar a série histórica dos censos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 1970 a 2010. Até o terremoto, pouco menos de 400 indivíduos vieram morar no Brasil nesse período. Número que não chega a 10% do total que migrou para terras brasileiras entre 2011 e 2012. Ainda segundo o IBGE, dos anos 70 para cá, portugueses e japoneses foram os povos que mais enviaram cidadãos para o Brasil: 1,29 milhão e 426 mil, respectivamente.
Mão de obra estrangeira é bem-vinda, dizem analistas
Os haitianos não concorrem com os brasileiros quando o assunto é mercado de trabalho, na opinião do professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Antônio Jorge Ramalho da Rocha e do professor de Sociologia na Universidade Federal do Paraná (UFPR) Márcio de Oliveira. Isso porque os imigrantes ocupam vagas em que o país carece de mão de obra.
De acordo com a política estabelecida pelo governo federal, após o terremoto de 2010, qualquer haitiano que não tenha antecedentes criminais e queira vir para o Brasil pode obter o visto para residência permanente mesmo sem ter vínculo empregatício no país. A embaixada brasileira em Porto Príncipe concede os vistos de quem quer vir para cá e o Ministério da Justiça regulariza a situação de quem já está no Brasil.
Conforme o presidente do Conselho Nacional de Imigração (Cnig), Paulo Sérgio de Almeida, dessa forma as imigrações são praticamente todas regulares. Apesar disso, ainda ocorre a travessia terrestre de haitianos para o Brasil pelo Acre, mas a situação é monitorada pelo governo.
“A quantidade de haitianos é pequena e será fa­cilmente absorvida pela economia brasileira, que, aliás, necessita de mão de obra. Em certas áreas, tais como a construção civil, eles têm longa tradição e trabalham muito bem”, analisa Rocha.
Além do Brasil, conforme Oliveira, os haitianos que deixaram o país após o terremoto foram para República Dominicana, Estados Unidos e França. “A situação no Haiti continua muito ruim, há centenas de abrigos e a tendência é que os haitianos continuem deixando o país”, considera. Para ele, os países latino-americanos deveriam se reunir para planejar o recebimento dos haitianos.
Assistência
Pastoral e Comitê Estadual prestam apoio a imigrantes no PR
Para apoiar os cerca de 600 hai­­tia­nos que estão no Paraná, o estado conta com a Pastoral do Mi­grante, uma iniciativa da Igre­ja Católica, e o Comitê Es­­ta­dual de Refugiados e Mi­gran­tes, que envolve órgãos do go­­ver­no estadual. A assistente social Elisete Sant’Anna de Oli­­vei­­ra, integrante da coordenação da Pastoral do Migrante, explica que a entidade acompanha o trabalho dos haitianos con­­tra­­tados no estado e verifica se eles não estão sob condições de­­gradantes. “A Pastoral não age diretamente nos contratos de trabalho, mas cria condi­ções pa­­ra questionar os problemas quan­­do eles existirem”, acrescenta.
Elisete também integra o Comitê Estadual. Ele foi instalado em julho deste ano para acompanhar as políticas públicas de atendimento a migrantes e refugiados e está sob a coordenação da Secretaria de Estado da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos. Conforme Elisete, entre os projetos do comitê estão aulas de português para os imigrantes em parceria com a Secretaria de Estado da Educação.

Fonte: Jornal Gazeta do Povo, publicação de 09/09/2012

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

SÍRIOS NO PARANÁ

Seguem artigos da Gazeta do povo, sobre os Sírios no Paraná:

Publicado em 09/09/2012
Oriente Médio

Christian Rizzi/Gazeta do Povo

Sírios escapam da guerra civil e buscam abrigo em cidades do Paraná


Refugiado manda dinheiro para a família que continua em Damasco e “reza” pelo fim do conflito entre Bashar Assad e os rebeldes


Por causa do conflito na Síria entre as tropas do presidente Bashar Assad e as forças rebeldes, e com medo de perder o emprego, Youssef escapou do país. Ele deixou o cargo de gerente de hotel e veio para o Brasil. Passou por São Paulo, Santa Catarina e hoje ganha a vida em Curitiba, trabalhando em uma lanchonete no centro da cidade.



 
 
 
Safin Hamed/AFP
Safin Hamed/AFP / Vista geral do campo de refugiados de Domiz, situado a 20 quilômetros de Dohuk, no norte do Iraque, país que abriga curdos vindos da Síria, de soldados desertores a civis amedrontados

Vista geral do campo de refugiados de Domiz, situado a 20 quilômetros de Dohuk, no norte do Iraque, país que abriga curdos vindos da Síria, de soldados desertores a civis amedrontados
Drama
“Eu nunca pensei que um dia fosse passar por isso”, diz brasileira
Denise Paro, da sucursal
Depois de passar dias tensos em meio aos bombardeios na Síria, a brasileira Priscila Eroud Ibrahim Bacha, de 25 anos, vai tentar a vida em Foz do Iguaçu. Ela, o marido sírio e os dois filhos deixaram o país às pressas no fim de agosto.
No avião, Priscila trouxe tudo o que restou dos quatro anos de trabalho na terra de Bashar Assad: duas malas. A casa e os dois estabelecimentos comerciais da família viraram ruínas.
“Eu nunca pensei que um dia fosse passar por isso. Nós vemos a guerra na tevê, mas é diferente ver com os próprios olhos. Há tantos meios para tirar um presidente do poder, por que a guerra?”, diz.
Filha da brasileira Wani Eroud e do imigrante sírio Nagib Eroud, Priscila resolveu mudar para a Síria com o marido Mohamed Hikmat, de 37 anos, levando consigo os filhos Najla e Hammoud, de 7 e 5 anos, nascidos no Brasil, para fugir de um problema recorrente em Foz do Iguaçu: a violência.
A decisão não foi precipitada. A família, que tinha joalheria na cidade, foi assaltada 14 vezes.
Quando foi viver em Aleppo, a segunda maior cidade do país com cerca de 2,3 milhões de habitantes, situada na região Noroeste, Priscila conta que pensava ter encontrado tranquilidade. Até a chegada da guerra.
A brasileira diz que os rebeldes invadiram a casa da família e usaram o quarto dela como base para atirar contra uma escola situada em frente da residência, onde também moravam os pais do marido. “Os rebeldes são de vários países. Eles não são sírios, eu vi o rosto deles”, diz.
Forçada a deixar o apartamento, a família se refugiou na casa de parentes, onde passou noites ouvindo tiros e barulho de aviões. Com o marido e os filhos, Priscila conseguiu um táxi e chegou ao aeroporto, que foi bombardeado pouco depois de o avião ter decolado.
A brasileira agradece a ajuda do Itamaraty e agora está pronta para começar a vida em Foz do Iguaçu, onde o marido procura trabalho.
“Nós até conseguimos viver em um lugar que tem assaltos, mas onde tem guerra, não”, diz Priscila.
Youssef não é seu nome verdadeiro. Ele teme represálias contra sua família, que continua vivendo em Damasco, capital síria. É para lá que vai parte do dinheiro que ganha trabalhando como cozinheiro. O ex-gerente de hotel é­­ um dos 236 mil refugiados­­ que cruzaram as fronteiras do país em busca de abrigo­­ em nações vizinhas, como a Jordânia e a Turquia. O nú­­mero é da Agência da ONU­­ para ­­Re­­fu­­gia­­dos (ACNUR).
“Precisei sair do país para trabalhar”, explica Youssef. “Muitos homens estão fazendo o mesmo. Não temos condição de fazer dinheiro por lá. Os hotéis e o comércio fecharam as portas.”
O ex-gerente de hotel afirma não se importar com quem vai sair vitorioso do conflito. “Só rezo ao meu Deus que tudo acabe logo”, diz.
Segundo o Consul Hono­­rário da Síria no Paraná e Santa Catarina, Abdo Dib Abage, muitos estão na mesma condição de Youssef. “Tenho parentes que perderam o emprego por lá. Estão vivendo de economias”, diz Abage.
Desde que os conflitos começaram na Síria, o Comitê Nacional para Refugiados (Conare), órgão do Ministério da Justiça, registrou o pedido de abrigo de 58 sírios. O número é inexpressivo diante do de pessoas que pediram refúgio nos países vizinhos da Síria.
“Em situações de conflitos, a ONU pede para­­ que os governos abram suas fronteiras e recebam re­­fugiados”, explica Luiz Fer­­nando Godinho, porta-voz da ACNUR no Brasil. Esse tipo de ação é uma responsabilidade de nações que assinaram documentos internacionais como o Estatuto dos Refugiados, de 1951.
“O grande problema de um país em guerra como a Síria é que existe uma população civil que fica no meio de um conflito armado. Os últimos anos são marcados por esse tipo de crise”, diz.
“Os refugiados são consequências típicas de uma guerra civil, ainda assim trata-se de uma situação temporária”, diz Ludmila Culpi, professora de Relações Internacionais do Centro Universitário Uninter. Quan­­do Assad cair – o que é mais provável, segundo ela –, a tendência é que essas pessoas voltem para casa.
Para Gilberto Ro­­dri­­gues, professor de Direito Internacional das Fa­­culdades Santa Marcelina, os­­ refugiados são uma evidência de que o conflito da Síria se “internacionalizou”. “Órgãos como a ACNUR dão bastante suporte para refugiados, mas o estado que os recebe também precisa contribuir e isso tem um custo. Eles fazem isso por respeito ao princípio da cooperação”, observa Rodrigues.
Para o professor, os civis que precisam pedir refúgio para não morrer são as grandes vítimas de um conflito. “As pessoas estão fugindo tanto da brutalidade das tropas de Assad quanto dos tiroteios dos rebeldes combatentes”.

 

Sírios no Paraná defendem Assad

Gazeta do Povo
Para imigrantes, interesse de derrubar o presidente árabe é da comunidade internacional e não dos habitantes da Síria.

 
Publicado em 29/07/2012 | Rodolfo Stancki
A comunidade síria do Pa­­raná apoia o presidente­­ Bashar Assad sem hesitar. O retrato do governante feito pelos sírios que moram aqui é diferente do visto nos relatos diários da imprensa internacional. Ao invés do ditador que reprime protestos com violência, falam de um homem culto que teve o país invadido por milícias internacionais.
“Bashar é um presidente bom, formado na Europa. Ele é o único que pode manter a tranquilidade da Síria neste momento de instabilidade”, diz o comerciante Elias Abdallah, representante da comunidade sírio-libanesa de Curitiba. Sua opinião é consenso entre outros imigrantes do estado.





Pierre Torres/AFP
Pierre Torres/AFP / Opositores  protestam em Aleppo durante funeral após bombardeio que teria matado diversas pessoas Ampliar imagem

Opositores protestam em Aleppo durante funeral após bombardeio que teria matado diversas pessoas
Imigrantes temem por suas famílias
Denise Paro, da sucursal
A instabilidade na Síria preocupa imigrantes da fronteira do Brasil e Paraguai. Pequena, a comunidade síria, que representa cerca de­­ 5% dos 12 mil imigrantes­­ árabes da região, mantém contato com parentes e está atenta ao que acontece no país.
A família do comerciante Hani Saad, 41 anos, conversa duas vezes por semana com parentes em Damasco. O contato, facilitado pelas redes sociais e o Skype, mostra, segundo Saad, que a situação no país é um pouco diferente do que é divulgado pela mídia.
Com base nas informações recebidas de parentes, Saad – que vive em Foz do Iguaçu há 19 anos – diz que a população apoia o governo de Bashar Assad.
“Como vai haver revolução se o povo de vários lugares está pacífico?”, questiona. Saad diz que o ímpeto revolucionário parte de pequenos grupos e o que acontece no fundo é uma guerra comercial contra a Síria.
O comerciante declara ser a favor do governo de Assad, diz que a Síria se modernizou nos últimos anos e está bem melhor se comparada à época em que ele vivia lá. “Se tivesse revolução, deveria ter sido há 15 anos”, afirma.
Mohamad Barakat, presidente da Associação Cultural Sírio-Libanesa de Foz do Igua­­­­çu, considera que a Síria passa hoje por uma espécie de Terceira Guerra Mundial. “De um lado estão os Estados Unidos e a Otan, de outro, a China e a Rússia.”
A maioria dos sírios paranaenses, que somam cerca de 3 mil pessoas, faz parte da minoria cristã ortodoxa. O país árabe abriga cristãos, muçulmanos sunitas, xiitas e alauítas (entre esses, o próprio Assad).
Grande parte dos opositores do regime sírio é formada por muçulmanos sunitas. “A generalização é perigosa, pois temos [por exemplo] muitos xiitas favoráveis a Bashar e vice-versa”, diz o­­ jornalista Omar Nasser Fi­­lho, que pesquisou o Oriente Médio durante pós-graduação na Universidade Federal do Paraná.
Descendente de libaneses, Nasser Filho também é diretor de comunicação da Sociedade Beneficente Muçulmana do Paraná, entidade que apoia a permanência de Assad no poder. “Entendemos que existe uma pressão externa para a queda do governo na Síria. Por isso, pequenos grupos de oposição dentro do país acabaram crescendo com o apoio internacional”, diz o jornalista.
Controvérsias
As declarações dos sírios cristãos e muçulmanos do Paraná dão a impressão de que as notícias de repressão violenta do governo de Assad são mentiras, apoiadas por uma estratégia internacional. “Para mim, isso é teoria da conspiração”, afirma Andrew Traumann, historiador e especialista em Oriente Médio do Centro Universitário Curitiba (UniCuritiba).
“A Síria possui um dos regimes mais fechados do mundo. Não há imprensa a não ser a do próprio estado. O que sabemos é o que vemos no noticiário internacional – o retrato de uma resposta violenta a uma onda de protestos que começou com a primavera árabe”, observa Traumann.
Comitiva
O vendedor Hikmat You­­sef, que mora em Curitiba há 35 anos, fez parte de uma comitiva de sírios residentes no Brasil que visitou (e cumprimentou) o presidente Bashar Assad em agosto do ano passado. O grupo foi ao país para prestar apoio ao governo logo que a crise política e civil teve início.
“O problema na Síria é que existe muita pressão de países como os Estados Unidos, que querem acabar com a relação do governo de Bashar com a Rússia”, diz Yousef. De acordo com ele, se a população quisesse que o presidente deixasse o cargo, ele já teria caído.
“Sabemos que o país tem corrupção e abusos de auto­­ridades. Mas outros países não podem interferir na so­­berania síria. Roupa suja se lava em casa”, afirma o comerciante.
Regime invade segunda maior cidade do país

Das agênciasUma tempestade de fogo caiu sobre Aleppo, bombardeada e metralhada pelas forças do regime de Bashar Assad, que tenta expulsar os rebeldes da segunda maior cidade da Síria, onde uma batalha crucial é travada. Os rebeldes conseguiram se defender das primeiras ofensivas do Exército no bairro de Salaheddine, e insurgentes afirmam que as forças do regime não progrediram e perderam tanques.
Os bombardeios começaram na madrugada de sábado no sudoeste de Aleppo, que está cercada, e continuaram com a mesma intensidade no início da tarde. Quatro helicópteros lançaram foguetes e metralharam o bairro, onde a artilharia e os tanques entraram em ação.
Segundo os rebeldes, os embates na cidade foram os mais pesados desde o início da revolta, há 16 meses. A ONU e diversos países manifestaram preocupação com o confronto, temendo a magnitude da destruição na metrópole de 2,5 milhão de habitantes, principal centro comercial e financeiro do país.
Pelo menos 29 morreram nesses embates, e a oposição elevou para 20 mil os mortos desde o início dos embates, em março do ano passado.
O governo tem sido acusado de barrar envio de provisões e comida para Aleppo. O fornecimento de energia é intermitente, falta água e cerca de 500 mil pessoas já fugiram da cidade.
Fronteira
Além da ofensiva em Aleppo, pelo menos dez obuses (granadas explosivas) foram disparados pela Síria ontem contra zonas fronteiriças com o norte do Líbano. Na cidade libanesa de Trípoli, também começaram novos enfrentamentos entre partidários e detratores do regime sírio.
Em meio ao aumento da tensão na região, a União Europeia cogita impor uma nova rodada de sanções contra a Síria, com embargo de armas e inspeções em navios e aviões. Rússia e China afirmaram que irão barrar inspeções em navios com sua bandeira.
Ainda ontem, as forças sírias libertaram dois trabalhadores italianos de um grupo terrorista que os havia sequestrado no início do mês. A imprensa italiana identificou os dois como Oriano Cantani, de 64 anos, e Domenico Tedeschi, de 36.

IMIGRANTES NO ACRE

Publicado em 11/07/2011 7:41:16 PM
Acre se transforma em porta de entrada para imigrantes no Brasil
Mais de 200 estrangeiros aguardam, no Acre, autorização da Polícia Federal para entrar no Brasil.
São haitianos em sua maioria, mas há pessoas naturais de Cuba, Tanzânia, Gana, Nigéria. Entre eles quatro bengaleses, presos próximo ao município de Xapuri no início do mês pela PF por entraram ilegalmente no país com destino a São Paulo, aguardam os trâmites para serem deportados. Com tradição de fronteira aberta, economia em desenvolvimento com alta de 7,5% do PIB em 2010 e previsão de crescimento também em 2011 segundo o IBGE e famoso por oferecer boa acolhida, o Brasil se torna rota atraente para imigrantes da América Latina e países da África e Ásia.
O Acre é a porta de entrada mais acessível pela interligação terrestre com o Peru que, além de manter acesso rodoviário com o Equador (país de fronteira totalmente aberta), possui portos internacionais. A chegada dos grupos de haitianos ao Brasil desde o fim do ano passado chamou a atenção principalmente da população dos estados do Acre, Amazonas e Pará, locais escolhidos para entrada ou passagem para outros destinos. Alguns setores da socie-dade, em seu primeiro impulso, tentaram barrar a entrada dos estrangeiros com argumento de oferecerem risco à segurança e ao equilíbrio econômico do Estado.
Na avaliação do secretário estadual de Justiça e Direitos Humanos Henrique Corintho, os haitianos que chegam pelo Acre querem ficar no país. Os que se aventuram por Manaus pretendem chegar à Guiana Francesa. Ele calcula que cerca de 600 estrangeiros (em sua maioria haitianos) tenham passado pelo Estado. A situação deveria receber intercessão do Governo Federal, que até agora não se posicionou oficialmente sobre a imigração crescente deste povo. O Ministério Público Federal emitiu duas recomendações para que os haitianos recebam visto de refúgio após a realização de uma audiência pública que reuniu representantes de organizações governamentais e sociais de defesa dos direitos dos imigrantes.
O secretário lembra que o Haiti sofre as conseqüências econômicas e estruturais de terremoto em 2010 que destruiu o país e repercute em situações de extrema miséria, desemprego, fome e fuga de mão-de-obra especializada. O número de analfabetos entre os que já receberam o visto é muito baixo. Há professores, advogados, arquitetos, engenheiros, mestre de obras, trabalhadores da construção civil. Parte desses primeiros grupos que chegaram ao Brasil seguiram para os estados de Rondônia, Minas Gerais e São Paulo. “São os haitianos com dinheiro e formação que conseguem sair do país. Por isso há este receio de que esteja acontecendo o fenômeno de fuga de cérebros daquele país”, diz Corintho.
É o caso de Waly Ceid, 26 anos, que estava no último ano de Engenharia Civil quando ocorreu o terremoto. Ele foi o primeiro haitiano a chegar ao Acre e receber o visto para permanência, que deve ser renovado a cada três meses. Foi através da internet que Ceid soube que o Brasil mantém a tradição de fronteiras abertas. Antes de se arriscar na viagem em que teria que cruzar quatro países tentou obter o visto por via legal. Sem expectativa de trabalho e de renda em seu país, decidiu deixar para trás a mãe e oito irmãos. Com ele vieram dois outros amigos que atualmente trabalham como pedreiros na obra de um prédio no Centro de Rio Branco e recebem um salário mínimo.
A região está sendo alvo da ação de quadrilhas e indivíduos que exploram imigrantes ilegais, mas os dois haitianos negam que tenham contratado “coiotes” para chegar ao Brasil. No ano passado a PF havia prendido 8 imigrantes ilegais também de Bangladesh e localizou, em Rio Branco, um homem que realizava a atividade no Acre, bengali casado com uma brasileira.
Fonte – Jornal A gazeta