Seguem artigos da Gazeta do povo, sobre os Sírios no Paraná:
Publicado em 09/09/2012
Oriente Médio
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Christian Rizzi/Gazeta do Povo |
Sírios escapam da guerra civil e buscam abrigo em cidades do Paraná
Refugiado manda dinheiro para a família que continua em Damasco
e “reza” pelo fim do conflito entre Bashar Assad e os rebeldes
Por
causa do conflito na Síria entre as tropas do presidente Bashar Assad e as
forças rebeldes, e com medo de perder o emprego, Youssef escapou do país. Ele
deixou o cargo de gerente de hotel e veio para o Brasil. Passou por São Paulo,
Santa Catarina e hoje ganha a vida em Curitiba, trabalhando em uma lanchonete no
centro da cidade.
Safin Hamed/AFP
Vista geral do campo de refugiados de Domiz, situado a 20
quilômetros de Dohuk, no norte do Iraque, país que abriga curdos vindos da
Síria, de soldados desertores a civis amedrontados
Youssef não é seu nome verdadeiro. Ele teme represálias contra sua família,
que continua vivendo em Damasco, capital síria. É para lá que vai parte do
dinheiro que ganha trabalhando como cozinheiro. O ex-gerente de hotel é um dos
236 mil refugiados que cruzaram as fronteiras do país em busca de abrigo em
nações vizinhas, como a Jordânia e a Turquia. O número é da Agência da ONU
para Refugiados (ACNUR).
“Precisei sair do país para trabalhar”, explica Youssef. “Muitos homens estão
fazendo o mesmo. Não temos condição de fazer dinheiro por lá. Os hotéis e o
comércio fecharam as portas.”
O ex-gerente de hotel afirma não se importar com quem vai sair vitorioso do
conflito. “Só rezo ao meu Deus que tudo acabe logo”, diz.
Segundo o Consul Honorário da Síria no Paraná e Santa Catarina, Abdo Dib
Abage, muitos estão na mesma condição de Youssef. “Tenho parentes que perderam o
emprego por lá. Estão vivendo de economias”, diz Abage.
Desde que os conflitos começaram na Síria, o Comitê Nacional para Refugiados
(Conare), órgão do Ministério da Justiça, registrou o pedido de abrigo de 58
sírios. O número é inexpressivo diante do de pessoas que pediram refúgio nos
países vizinhos da Síria.
“Em situações de conflitos, a ONU pede para que os governos abram suas
fronteiras e recebam refugiados”, explica Luiz Fernando Godinho, porta-voz
da ACNUR no Brasil. Esse tipo de ação é uma responsabilidade de nações que
assinaram documentos internacionais como o Estatuto dos Refugiados, de 1951.
“O grande problema de um país em guerra como a Síria é que existe uma
população civil que fica no meio de um conflito armado. Os últimos anos são
marcados por esse tipo de crise”, diz.
“Os refugiados são consequências típicas de uma guerra civil, ainda assim
trata-se de uma situação temporária”, diz Ludmila Culpi, professora de Relações
Internacionais do Centro Universitário Uninter. Quando Assad cair – o que é
mais provável, segundo ela –, a tendência é que essas pessoas voltem para casa.
Para Gilberto Rodrigues, professor de Direito Internacional das
Faculdades Santa Marcelina, os refugiados são uma evidência de que o
conflito da Síria se “internacionalizou”. “Órgãos como a ACNUR dão bastante
suporte para refugiados, mas o estado que os recebe também precisa contribuir e
isso tem um custo. Eles fazem isso por respeito ao princípio da cooperação”,
observa Rodrigues.
Para o professor, os civis que precisam pedir refúgio para não morrer são as
grandes vítimas de um conflito. “As pessoas estão fugindo tanto da brutalidade
das tropas de Assad quanto dos tiroteios dos rebeldes combatentes”.
Sírios no Paraná defendem Assad
Gazeta do Povo
Para imigrantes, interesse de derrubar o presidente árabe é da comunidade internacional e não dos habitantes da Síria.
Publicado em 29/07/2012 | Rodolfo Stancki
A comunidade síria do Paraná apoia o presidente Bashar Assad sem hesitar. O retrato do governante feito pelos sírios que moram aqui é diferente do visto nos relatos diários da imprensa internacional. Ao invés do ditador que reprime protestos com violência, falam de um homem culto que teve o país invadido por milícias internacionais.
“Bashar é um presidente bom, formado na Europa. Ele é o único que pode manter a tranquilidade da Síria neste momento de instabilidade”, diz o comerciante Elias Abdallah, representante da comunidade sírio-libanesa de Curitiba. Sua opinião é consenso entre outros imigrantes do estado.
Pierre Torres/AFP
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Opositores protestam em Aleppo durante funeral após bombardeio que teria matado diversas pessoas
A maioria dos sírios paranaenses, que somam cerca de 3 mil pessoas, faz parte da minoria cristã ortodoxa. O país árabe abriga cristãos, muçulmanos sunitas, xiitas e alauítas (entre esses, o próprio Assad).
Grande parte dos opositores do regime sírio é formada por muçulmanos sunitas. “A generalização é perigosa, pois temos [por exemplo] muitos xiitas favoráveis a Bashar e vice-versa”, diz o jornalista Omar Nasser Filho, que pesquisou o Oriente Médio durante pós-graduação na Universidade Federal do Paraná.
Descendente de libaneses, Nasser Filho também é diretor de comunicação da Sociedade Beneficente Muçulmana do Paraná, entidade que apoia a permanência de Assad no poder. “Entendemos que existe uma pressão externa para a queda do governo na Síria. Por isso, pequenos grupos de oposição dentro do país acabaram crescendo com o apoio internacional”, diz o jornalista.
Controvérsias
As declarações dos sírios cristãos e muçulmanos do Paraná dão a impressão de que as notícias de repressão violenta do governo de Assad são mentiras, apoiadas por uma estratégia internacional. “Para mim, isso é teoria da conspiração”, afirma Andrew Traumann, historiador e especialista em Oriente Médio do Centro Universitário Curitiba (UniCuritiba).
“A Síria possui um dos regimes mais fechados do mundo. Não há imprensa a não ser a do próprio estado. O que sabemos é o que vemos no noticiário internacional – o retrato de uma resposta violenta a uma onda de protestos que começou com a primavera árabe”, observa Traumann.
Comitiva
O vendedor Hikmat Yousef, que mora em Curitiba há 35 anos, fez parte de uma comitiva de sírios residentes no Brasil que visitou (e cumprimentou) o presidente Bashar Assad em agosto do ano passado. O grupo foi ao país para prestar apoio ao governo logo que a crise política e civil teve início.
“O problema na Síria é que existe muita pressão de países como os Estados Unidos, que querem acabar com a relação do governo de Bashar com a Rússia”, diz Yousef. De acordo com ele, se a população quisesse que o presidente deixasse o cargo, ele já teria caído.
“Sabemos que o país tem corrupção e abusos de autoridades. Mas outros países não podem interferir na soberania síria. Roupa suja se lava em casa”, afirma o comerciante.
Regime invade segunda maior cidade do país
Das agênciasUma tempestade de fogo caiu sobre Aleppo, bombardeada e metralhada pelas forças do regime de Bashar Assad, que tenta expulsar os rebeldes da segunda maior cidade da Síria, onde uma batalha crucial é travada. Os rebeldes conseguiram se defender das primeiras ofensivas do Exército no bairro de Salaheddine, e insurgentes afirmam que as forças do regime não progrediram e perderam tanques.
Os bombardeios começaram na madrugada de sábado no sudoeste de Aleppo, que está cercada, e continuaram com a mesma intensidade no início da tarde. Quatro helicópteros lançaram foguetes e metralharam o bairro, onde a artilharia e os tanques entraram em ação.
Segundo os rebeldes, os embates na cidade foram os mais pesados desde o início da revolta, há 16 meses. A ONU e diversos países manifestaram preocupação com o confronto, temendo a magnitude da destruição na metrópole de 2,5 milhão de habitantes, principal centro comercial e financeiro do país.
Pelo menos 29 morreram nesses embates, e a oposição elevou para 20 mil os mortos desde o início dos embates, em março do ano passado.
O governo tem sido acusado de barrar envio de provisões e comida para Aleppo. O fornecimento de energia é intermitente, falta água e cerca de 500 mil pessoas já fugiram da cidade.
Fronteira
Além da ofensiva em Aleppo, pelo menos dez obuses (granadas explosivas) foram disparados pela Síria ontem contra zonas fronteiriças com o norte do Líbano. Na cidade libanesa de Trípoli, também começaram novos enfrentamentos entre partidários e detratores do regime sírio.
Em meio ao aumento da tensão na região, a União Europeia cogita impor uma nova rodada de sanções contra a Síria, com embargo de armas e inspeções em navios e aviões. Rússia e China afirmaram que irão barrar inspeções em navios com sua bandeira.
Ainda ontem, as forças sírias libertaram dois trabalhadores italianos de um grupo terrorista que os havia sequestrado no início do mês. A imprensa italiana identificou os dois como Oriano Cantani, de 64 anos, e Domenico Tedeschi, de 36.