quarta-feira, 19 de setembro de 2012

SÍRIOS NO PARANÁ

Seguem artigos da Gazeta do povo, sobre os Sírios no Paraná:

Publicado em 09/09/2012
Oriente Médio

Christian Rizzi/Gazeta do Povo

Sírios escapam da guerra civil e buscam abrigo em cidades do Paraná


Refugiado manda dinheiro para a família que continua em Damasco e “reza” pelo fim do conflito entre Bashar Assad e os rebeldes


Por causa do conflito na Síria entre as tropas do presidente Bashar Assad e as forças rebeldes, e com medo de perder o emprego, Youssef escapou do país. Ele deixou o cargo de gerente de hotel e veio para o Brasil. Passou por São Paulo, Santa Catarina e hoje ganha a vida em Curitiba, trabalhando em uma lanchonete no centro da cidade.



 
 
 
Safin Hamed/AFP
Safin Hamed/AFP / Vista geral do campo de refugiados de Domiz, situado a 20 quilômetros de Dohuk, no norte do Iraque, país que abriga curdos vindos da Síria, de soldados desertores a civis amedrontados

Vista geral do campo de refugiados de Domiz, situado a 20 quilômetros de Dohuk, no norte do Iraque, país que abriga curdos vindos da Síria, de soldados desertores a civis amedrontados
Drama
“Eu nunca pensei que um dia fosse passar por isso”, diz brasileira
Denise Paro, da sucursal
Depois de passar dias tensos em meio aos bombardeios na Síria, a brasileira Priscila Eroud Ibrahim Bacha, de 25 anos, vai tentar a vida em Foz do Iguaçu. Ela, o marido sírio e os dois filhos deixaram o país às pressas no fim de agosto.
No avião, Priscila trouxe tudo o que restou dos quatro anos de trabalho na terra de Bashar Assad: duas malas. A casa e os dois estabelecimentos comerciais da família viraram ruínas.
“Eu nunca pensei que um dia fosse passar por isso. Nós vemos a guerra na tevê, mas é diferente ver com os próprios olhos. Há tantos meios para tirar um presidente do poder, por que a guerra?”, diz.
Filha da brasileira Wani Eroud e do imigrante sírio Nagib Eroud, Priscila resolveu mudar para a Síria com o marido Mohamed Hikmat, de 37 anos, levando consigo os filhos Najla e Hammoud, de 7 e 5 anos, nascidos no Brasil, para fugir de um problema recorrente em Foz do Iguaçu: a violência.
A decisão não foi precipitada. A família, que tinha joalheria na cidade, foi assaltada 14 vezes.
Quando foi viver em Aleppo, a segunda maior cidade do país com cerca de 2,3 milhões de habitantes, situada na região Noroeste, Priscila conta que pensava ter encontrado tranquilidade. Até a chegada da guerra.
A brasileira diz que os rebeldes invadiram a casa da família e usaram o quarto dela como base para atirar contra uma escola situada em frente da residência, onde também moravam os pais do marido. “Os rebeldes são de vários países. Eles não são sírios, eu vi o rosto deles”, diz.
Forçada a deixar o apartamento, a família se refugiou na casa de parentes, onde passou noites ouvindo tiros e barulho de aviões. Com o marido e os filhos, Priscila conseguiu um táxi e chegou ao aeroporto, que foi bombardeado pouco depois de o avião ter decolado.
A brasileira agradece a ajuda do Itamaraty e agora está pronta para começar a vida em Foz do Iguaçu, onde o marido procura trabalho.
“Nós até conseguimos viver em um lugar que tem assaltos, mas onde tem guerra, não”, diz Priscila.
Youssef não é seu nome verdadeiro. Ele teme represálias contra sua família, que continua vivendo em Damasco, capital síria. É para lá que vai parte do dinheiro que ganha trabalhando como cozinheiro. O ex-gerente de hotel é­­ um dos 236 mil refugiados­­ que cruzaram as fronteiras do país em busca de abrigo­­ em nações vizinhas, como a Jordânia e a Turquia. O nú­­mero é da Agência da ONU­­ para ­­Re­­fu­­gia­­dos (ACNUR).
“Precisei sair do país para trabalhar”, explica Youssef. “Muitos homens estão fazendo o mesmo. Não temos condição de fazer dinheiro por lá. Os hotéis e o comércio fecharam as portas.”
O ex-gerente de hotel afirma não se importar com quem vai sair vitorioso do conflito. “Só rezo ao meu Deus que tudo acabe logo”, diz.
Segundo o Consul Hono­­rário da Síria no Paraná e Santa Catarina, Abdo Dib Abage, muitos estão na mesma condição de Youssef. “Tenho parentes que perderam o emprego por lá. Estão vivendo de economias”, diz Abage.
Desde que os conflitos começaram na Síria, o Comitê Nacional para Refugiados (Conare), órgão do Ministério da Justiça, registrou o pedido de abrigo de 58 sírios. O número é inexpressivo diante do de pessoas que pediram refúgio nos países vizinhos da Síria.
“Em situações de conflitos, a ONU pede para­­ que os governos abram suas fronteiras e recebam re­­fugiados”, explica Luiz Fer­­nando Godinho, porta-voz da ACNUR no Brasil. Esse tipo de ação é uma responsabilidade de nações que assinaram documentos internacionais como o Estatuto dos Refugiados, de 1951.
“O grande problema de um país em guerra como a Síria é que existe uma população civil que fica no meio de um conflito armado. Os últimos anos são marcados por esse tipo de crise”, diz.
“Os refugiados são consequências típicas de uma guerra civil, ainda assim trata-se de uma situação temporária”, diz Ludmila Culpi, professora de Relações Internacionais do Centro Universitário Uninter. Quan­­do Assad cair – o que é mais provável, segundo ela –, a tendência é que essas pessoas voltem para casa.
Para Gilberto Ro­­dri­­gues, professor de Direito Internacional das Fa­­culdades Santa Marcelina, os­­ refugiados são uma evidência de que o conflito da Síria se “internacionalizou”. “Órgãos como a ACNUR dão bastante suporte para refugiados, mas o estado que os recebe também precisa contribuir e isso tem um custo. Eles fazem isso por respeito ao princípio da cooperação”, observa Rodrigues.
Para o professor, os civis que precisam pedir refúgio para não morrer são as grandes vítimas de um conflito. “As pessoas estão fugindo tanto da brutalidade das tropas de Assad quanto dos tiroteios dos rebeldes combatentes”.

 

Sírios no Paraná defendem Assad

Gazeta do Povo
Para imigrantes, interesse de derrubar o presidente árabe é da comunidade internacional e não dos habitantes da Síria.

 
Publicado em 29/07/2012 | Rodolfo Stancki
A comunidade síria do Pa­­raná apoia o presidente­­ Bashar Assad sem hesitar. O retrato do governante feito pelos sírios que moram aqui é diferente do visto nos relatos diários da imprensa internacional. Ao invés do ditador que reprime protestos com violência, falam de um homem culto que teve o país invadido por milícias internacionais.
“Bashar é um presidente bom, formado na Europa. Ele é o único que pode manter a tranquilidade da Síria neste momento de instabilidade”, diz o comerciante Elias Abdallah, representante da comunidade sírio-libanesa de Curitiba. Sua opinião é consenso entre outros imigrantes do estado.





Pierre Torres/AFP
Pierre Torres/AFP / Opositores  protestam em Aleppo durante funeral após bombardeio que teria matado diversas pessoas Ampliar imagem

Opositores protestam em Aleppo durante funeral após bombardeio que teria matado diversas pessoas
Imigrantes temem por suas famílias
Denise Paro, da sucursal
A instabilidade na Síria preocupa imigrantes da fronteira do Brasil e Paraguai. Pequena, a comunidade síria, que representa cerca de­­ 5% dos 12 mil imigrantes­­ árabes da região, mantém contato com parentes e está atenta ao que acontece no país.
A família do comerciante Hani Saad, 41 anos, conversa duas vezes por semana com parentes em Damasco. O contato, facilitado pelas redes sociais e o Skype, mostra, segundo Saad, que a situação no país é um pouco diferente do que é divulgado pela mídia.
Com base nas informações recebidas de parentes, Saad – que vive em Foz do Iguaçu há 19 anos – diz que a população apoia o governo de Bashar Assad.
“Como vai haver revolução se o povo de vários lugares está pacífico?”, questiona. Saad diz que o ímpeto revolucionário parte de pequenos grupos e o que acontece no fundo é uma guerra comercial contra a Síria.
O comerciante declara ser a favor do governo de Assad, diz que a Síria se modernizou nos últimos anos e está bem melhor se comparada à época em que ele vivia lá. “Se tivesse revolução, deveria ter sido há 15 anos”, afirma.
Mohamad Barakat, presidente da Associação Cultural Sírio-Libanesa de Foz do Igua­­­­çu, considera que a Síria passa hoje por uma espécie de Terceira Guerra Mundial. “De um lado estão os Estados Unidos e a Otan, de outro, a China e a Rússia.”
A maioria dos sírios paranaenses, que somam cerca de 3 mil pessoas, faz parte da minoria cristã ortodoxa. O país árabe abriga cristãos, muçulmanos sunitas, xiitas e alauítas (entre esses, o próprio Assad).
Grande parte dos opositores do regime sírio é formada por muçulmanos sunitas. “A generalização é perigosa, pois temos [por exemplo] muitos xiitas favoráveis a Bashar e vice-versa”, diz o­­ jornalista Omar Nasser Fi­­lho, que pesquisou o Oriente Médio durante pós-graduação na Universidade Federal do Paraná.
Descendente de libaneses, Nasser Filho também é diretor de comunicação da Sociedade Beneficente Muçulmana do Paraná, entidade que apoia a permanência de Assad no poder. “Entendemos que existe uma pressão externa para a queda do governo na Síria. Por isso, pequenos grupos de oposição dentro do país acabaram crescendo com o apoio internacional”, diz o jornalista.
Controvérsias
As declarações dos sírios cristãos e muçulmanos do Paraná dão a impressão de que as notícias de repressão violenta do governo de Assad são mentiras, apoiadas por uma estratégia internacional. “Para mim, isso é teoria da conspiração”, afirma Andrew Traumann, historiador e especialista em Oriente Médio do Centro Universitário Curitiba (UniCuritiba).
“A Síria possui um dos regimes mais fechados do mundo. Não há imprensa a não ser a do próprio estado. O que sabemos é o que vemos no noticiário internacional – o retrato de uma resposta violenta a uma onda de protestos que começou com a primavera árabe”, observa Traumann.
Comitiva
O vendedor Hikmat You­­sef, que mora em Curitiba há 35 anos, fez parte de uma comitiva de sírios residentes no Brasil que visitou (e cumprimentou) o presidente Bashar Assad em agosto do ano passado. O grupo foi ao país para prestar apoio ao governo logo que a crise política e civil teve início.
“O problema na Síria é que existe muita pressão de países como os Estados Unidos, que querem acabar com a relação do governo de Bashar com a Rússia”, diz Yousef. De acordo com ele, se a população quisesse que o presidente deixasse o cargo, ele já teria caído.
“Sabemos que o país tem corrupção e abusos de auto­­ridades. Mas outros países não podem interferir na so­­berania síria. Roupa suja se lava em casa”, afirma o comerciante.
Regime invade segunda maior cidade do país

Das agênciasUma tempestade de fogo caiu sobre Aleppo, bombardeada e metralhada pelas forças do regime de Bashar Assad, que tenta expulsar os rebeldes da segunda maior cidade da Síria, onde uma batalha crucial é travada. Os rebeldes conseguiram se defender das primeiras ofensivas do Exército no bairro de Salaheddine, e insurgentes afirmam que as forças do regime não progrediram e perderam tanques.
Os bombardeios começaram na madrugada de sábado no sudoeste de Aleppo, que está cercada, e continuaram com a mesma intensidade no início da tarde. Quatro helicópteros lançaram foguetes e metralharam o bairro, onde a artilharia e os tanques entraram em ação.
Segundo os rebeldes, os embates na cidade foram os mais pesados desde o início da revolta, há 16 meses. A ONU e diversos países manifestaram preocupação com o confronto, temendo a magnitude da destruição na metrópole de 2,5 milhão de habitantes, principal centro comercial e financeiro do país.
Pelo menos 29 morreram nesses embates, e a oposição elevou para 20 mil os mortos desde o início dos embates, em março do ano passado.
O governo tem sido acusado de barrar envio de provisões e comida para Aleppo. O fornecimento de energia é intermitente, falta água e cerca de 500 mil pessoas já fugiram da cidade.
Fronteira
Além da ofensiva em Aleppo, pelo menos dez obuses (granadas explosivas) foram disparados pela Síria ontem contra zonas fronteiriças com o norte do Líbano. Na cidade libanesa de Trípoli, também começaram novos enfrentamentos entre partidários e detratores do regime sírio.
Em meio ao aumento da tensão na região, a União Europeia cogita impor uma nova rodada de sanções contra a Síria, com embargo de armas e inspeções em navios e aviões. Rússia e China afirmaram que irão barrar inspeções em navios com sua bandeira.
Ainda ontem, as forças sírias libertaram dois trabalhadores italianos de um grupo terrorista que os havia sequestrado no início do mês. A imprensa italiana identificou os dois como Oriano Cantani, de 64 anos, e Domenico Tedeschi, de 36.

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